segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Psicogênese do Amor



            O amor é de essência divina, porque nasce na excelsa paternidade de Deus.
            Emanação sublime, encontra-se ínsito no hálito da  vida, quando o psiquismo em forma primitiva mergulha na aglutinação molecular, dando início ao grandioso processo da evolução.
            Na sua expressão mais primária manifesta-se como a força encarregada de unir as partículas, compondo as estruturas minerais, transferindo-se, ao largo dos bilhões de anos, para as organizações vegetais, nas quais desenvolve o embrionário sistema nervoso na seiva que mantém a vida, através do surgimento da sensibilidade.
            Um novo processo, que se desdobra por período multimilenar, trabalha a estrutura vibratória da energia psíquica de que se constitui, facultando-lhe o desdobramento das sensações até o momento em que surge o instinto nas formas animais. É nessa fase que se irá modelar o futuro da constituição do ego, enquanto o princípio inteligente, embora adormecido, inicie a elaboração da individualização do self.
            A predominância do instinto, na sucessão dos milhares de anos, desenvolverá o sentimento de posse, e este, o do medo da agressão, induzindo comportamento violento em defesa da própria vida.
            Ao longo dos milênios, ao alcançar o estado de humanidade, a herança acumulada nos milhões de anos transcorridos no processo de contínuas transformações, desencadeia a preponderância do egocentrismo, de início, segundo o caminho do egotismo exacerbado até o momento quando ocorre a mudança de nível de consciência adormecida para a desperta, responsável por aquisições emocionais mais enriquecedoras.
            É nessa fase de modificações que tem início o sentimento do amor, confundindo-se ainda com as manifestações do instinto em primitivas formas predatórias contra outras expressões de vida, prevalecendo as sensações que rumam para as emoções dignificantes.
            Somente quando alcança um equânime estado de desenvolvimento, é que os sentimentos podem ser educados e exercitados, fornecendo recursos à razão, mediante os equipamentos delicados e próprios para a elaboração da proposta de felicidade. Nada obstante, desde os primórdios do instinto que a educação exercerá uma contribuição fundamental para o crescimento e as aquisições dos valores pertinentes a cada faixa do fenômeno evolutivo.
            A conquista da razão, em decorrência dos automatismos inevitáveis da fatalidade antropossociopsicológica, faculta o surgimento da consciência lúcida, que esteve submersa em níveis inferiores, escrava dos impositivos dos instintos primários em prevalência.
            Nesse período de crescimento de valores éticos e estéticos, o amor desempenha um papel fundamental, pelo fato de constituir-se em estímulo para conquistas mais avançadas em direção do futuro.
            Da posse perversa e egotista do primarismo à renúncia abnegada do patamar de lucidez espiritual, toda uma larga experimentação, na área das emoções, encarrega-se de limar as arestas do ego, favorecendo o self com o desabrochar das emoções superiores.
            Em razão desse demorado processo, o imediatismo do instinto que domina e frui prazer sensorial, aperfeiçoa-se, tornando-se emoções espirituais que governarão o porvir do ser em desenvolvimento moral.
            A necessidade do amor, nesse longo trânsito, apresenta-se como propelente à conquista de mais nobres níveis de consciência responsáveis pela beleza, pelo conhecimento cultural e moral, pelas realizações afetuosas, pela solidariedade humana, pela conquista holística do pensamento universal.
            Atado às heranças do gozo asselvajado, pela imposição grosseira, o self passa lentamente a administrar os impulsos que se tornam, ao longo das encarnações, mais sutis e nobres, expandindo-se, tornando-se fonte vital de recursos para o progresso e desenvolvimento interior a que está destinado.
            O amor, apresentando-se em mínima expressão, nas primárias manifestações, encontrando estímulos desenvolve os sentimentos e transforma-se em um oceano de riquezas.

Do livro: CONFLITOS EXISTENCIAIS  

Divaldo Pereira Franco/Joanna de Angelis

Um comentário:

Marites Rehermann disse...

Lindíssimo texto...me fez refletir!!

Luz e Paz em seu caminho!!
Beijinhos!!♥